O HOMEM INVENTADO

Ele nunca existiu. Eu já desconfiava da sua não existência, mas hoje constatei, com obtusa pertinácia, que ele de fato nunca esteve presente. Eu inventei a sua presença.
Agora tenho vergonha da minha inocência, de não ter percebido antes que ele era o meu imaginário. Um imaginário que criei nessa ânsia absurda de viver logo tudo, para que me sobrasse tempo de simplesmente viver, sem a necessidade de viver para, viver com, viver de. Todo o tempo esteve demasiadamente óbvio que ele era uma escapatória do meu destino menor, uma bifurcação cerebral inventada pelo meu subconsciente para buscar a tragédia da liberdade.
Depois de inventado, eu o esculpi, pois o homem que eu havia criado me saiu com a madeira algo retorcida pela vaidade e galhos de desesperança. E então desgastei gradativamente a matéria da qual ele é feito, buscando encontrar o seu eu imanente, que não estivesse ainda contaminado pelo meu olhar. Para meu espanto, encontrei seiva de poesia, de sensibilidade e a promessa de uma existência.
Desconfio que foi nesse momento que me perdi – no momento em que pensei ter encontrado existência nele. E passei então a amá-lo, como se amam as coisas cotidianas. Como eu não o havia feito meu, pude sinceramente enamorar-me, e deixar-me possuir toda por essa vida inexistente, sem torturá-lo com as exigências do destino menor. Foi então que senti que cabia toda nele. O homem inventado me ampliava. A sua não existência somada à minha, despertara uma nova organização de real, que me fazia transbordar.
A cada vez que o encontrava personificado, vivíamos o agora como se nele todo coubesse o presente. Ele não está delimitado em pessoa. Ele é mais aquilo que nele não é. Ele é a intertroca da alma de Dolores.
Agora tenho vergonha da minha inocência, de não ter percebido antes que ele era o meu imaginário. Um imaginário que criei nessa ânsia absurda de viver logo tudo, para que me sobrasse tempo de simplesmente viver, sem a necessidade de viver para, viver com, viver de. Todo o tempo esteve demasiadamente óbvio que ele era uma escapatória do meu destino menor, uma bifurcação cerebral inventada pelo meu subconsciente para buscar a tragédia da liberdade.
Depois de inventado, eu o esculpi, pois o homem que eu havia criado me saiu com a madeira algo retorcida pela vaidade e galhos de desesperança. E então desgastei gradativamente a matéria da qual ele é feito, buscando encontrar o seu eu imanente, que não estivesse ainda contaminado pelo meu olhar. Para meu espanto, encontrei seiva de poesia, de sensibilidade e a promessa de uma existência.
Desconfio que foi nesse momento que me perdi – no momento em que pensei ter encontrado existência nele. E passei então a amá-lo, como se amam as coisas cotidianas. Como eu não o havia feito meu, pude sinceramente enamorar-me, e deixar-me possuir toda por essa vida inexistente, sem torturá-lo com as exigências do destino menor. Foi então que senti que cabia toda nele. O homem inventado me ampliava. A sua não existência somada à minha, despertara uma nova organização de real, que me fazia transbordar.
A cada vez que o encontrava personificado, vivíamos o agora como se nele todo coubesse o presente. Ele não está delimitado em pessoa. Ele é mais aquilo que nele não é. Ele é a intertroca da alma de Dolores.
5 Comments:
faz pensar em como é tênue a linha que separa imaginado/vivido, energia/matéria, alma/corpo, ilusão/realidade...
belo texto.
lindo, lindo...
Lu, me achei tão parecida com essa moça da foto...
é mesmo! a moça da foto é a clau!
A intangibilidade move o amor. Ou o amor move o intangível?
Mr.X
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