Sunday, October 22, 2006

Diário de Transbordo - Parte XIII: O lugar das casas



- Teresa, não faça birra. Temos que voltar para casa.

- E onde é que fica a nossa casa, Dolores?

- Do outro lado do oceano, pequena.

- E porque a nossa casa não pode ser aquí?

- Por que do outro lado estão os que nos geraram, Teresa. Lá naquela linha, onde parece que o mundo acaba, é que está a nossa terra, nossa riqueza, nosso povo.

- Mas a maioria dos que estão lá agora vieram de outras casas. Até aqueles que nos geraram vieram de otros oceanos, Dolores. Então se fosse assim eles também não estão em casa, né?

- É, Teresa. Quer dizer, vendo dessa forma, talvez.

- Então se eles tivessem voltado para casa, ou se nunca tivessem saído de lá, lá podia ser aquí, nós poderíamos ter sido geradas em outros oceanos, ou nesse oceano aquí, e então essa seria a nossa casa.

- Ai, Teresa, não me venha com seus sofismos. Precisamos comprar logo a passagem de volta. Anda, me dá a mão!

- Então promete que a gente vai voltar, e que um dia aquí vai ser a nossa casa.

- Não, pequena, não posso te prometer isso.

- Então promete que a gente vai ter várias casas, em todos os oceanos possíveis, para nunca ter que se despedir.


- Sim, meu amor. Isso eu te prometo.

- Jura sem cruzar os dedos e olhando para mim sem rir!


- Juro, juro, juro, Teresa. Por nós três.

Michoacán, 14 de outubro de 2006.


2 Comments:

At 9:44 AM, Blogger Mauro Sérgio Farias said...

A maravilhosa Teresa Cristina, discípula do grande mestre Paulinho da Viola, gravou um dos mais belos discos que o nosso samba já produziu e chamou-o de "O mundo é o meu lugar".

Creio que isso diz tudo.

Saudades em fraternura,

Mauro

 
At 7:03 AM, Blogger A digestora metanóica said...

lágrimas nos olhos...

 

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