Diário de Transbordo - Parte Final: PRETENSÃO

A Avenida Reforma lhe pareceu mais ampla. As árvores de um verde escuro único lhe acolheram com a sombra de seus galhos góticos. O Anjo da Independência, lavado em ouro, curvou-se complacente ao vê-la passar.
Caminhou devotando a cada passo atenção exclusiva, percebendo no estalar dos ossos o movimento de cada célula. Pequenos pedintes de mãos aflitas lhe seguiam, esforçando-se para despertá-la do êxtase. Mas ela era só silêncio, ausente de todo o sentido que aquele país havia lhe concedido.
O Museu de Belas Artes parou diante dela, emoldurando-a com seus pilares europeus. Perderia sua companhia do alvorecer, a menina das tardes de outono que vinha observar, do alto de suas escadas, aqueles que a observavam. Estava sempre cheio de seres aflitos, que subiam e desciam freneticamente seus degraus, mas era ela a única que lhe recitava poesias, acariciava seu corrimão, que ria e chorava só para ele, resgatando-a de sua mórbida materialidade.
Os vendedores ambulantes da esquina do Senado a observaram mudos, resignados diante da perda da mulher que todas as manhãs inspirava hinos masculinos ao cruzar a avenida com seu decote brasileiríssimo.
Os pães açucarados e os donuts recheados com cajeta exibiam-se para ela na vitrine das padarias da Praça do Zócalo. Mas ela passou indiferente, com os olhos voltados para dentro, escorregando pelo asfalto sem querer chegar.
A Catedral Metropolitana a abençoou, balançando seus sinos para a sua pequena devota, de crenças católicas, maias e admiradora dos rituais afros.
As ruínas astecas desmoronaram ainda mais, inconsoláveis, ao vê-la chegar pela última vez.
O Palácio de Governo e a Suprema Corte de Justiça lhe estenderam o tapete vermelho.
Dois mariachis lançavam notas ao vento, e ela as acolhia com os ouvidos sem deixar-se penetrar. A bandeira tricolor lhe sorria do alto da Torre Latino-americana, mas ela só existia para a sua nostalgia.
As rotativas do jornal pararam.
Voltou para o lar mexicano, desejando perder-se no caminho que já conhecia tão bem. Suas malas a miraram com desdém. Cerrou-as deixando metade da camisa brasileira do lado de fora. Sentiu o peso de cada dia daquele outono sobrecarregar-lhe a mente e o antebraço.
O aeroporto da capital desesperou-se ao vê-la. Parou as escadas rolantes, travou as portas de vidro, mobilizou policiais para impedi-la de passar pelas barreiras diplomáticas. Mas ela cruzou todos os obstáculos e alcançou o avião, que moveu as asas em sinal negativo, na última tentativa de não perdê-la.
Mas ela invadiu-o, melancólica e soberana. Recostou os ombros exaustos no banco 22 A e deixou-se embriagar pelas nuvens, sorvendo todo o silêncio que necessitava para suportar a travessia.
E o Atlântico coube todo em sua inspiração.
Caminhou devotando a cada passo atenção exclusiva, percebendo no estalar dos ossos o movimento de cada célula. Pequenos pedintes de mãos aflitas lhe seguiam, esforçando-se para despertá-la do êxtase. Mas ela era só silêncio, ausente de todo o sentido que aquele país havia lhe concedido.
O Museu de Belas Artes parou diante dela, emoldurando-a com seus pilares europeus. Perderia sua companhia do alvorecer, a menina das tardes de outono que vinha observar, do alto de suas escadas, aqueles que a observavam. Estava sempre cheio de seres aflitos, que subiam e desciam freneticamente seus degraus, mas era ela a única que lhe recitava poesias, acariciava seu corrimão, que ria e chorava só para ele, resgatando-a de sua mórbida materialidade.
Os vendedores ambulantes da esquina do Senado a observaram mudos, resignados diante da perda da mulher que todas as manhãs inspirava hinos masculinos ao cruzar a avenida com seu decote brasileiríssimo.
Os pães açucarados e os donuts recheados com cajeta exibiam-se para ela na vitrine das padarias da Praça do Zócalo. Mas ela passou indiferente, com os olhos voltados para dentro, escorregando pelo asfalto sem querer chegar.
A Catedral Metropolitana a abençoou, balançando seus sinos para a sua pequena devota, de crenças católicas, maias e admiradora dos rituais afros.
As ruínas astecas desmoronaram ainda mais, inconsoláveis, ao vê-la chegar pela última vez.
O Palácio de Governo e a Suprema Corte de Justiça lhe estenderam o tapete vermelho.
Dois mariachis lançavam notas ao vento, e ela as acolhia com os ouvidos sem deixar-se penetrar. A bandeira tricolor lhe sorria do alto da Torre Latino-americana, mas ela só existia para a sua nostalgia.
As rotativas do jornal pararam.
Voltou para o lar mexicano, desejando perder-se no caminho que já conhecia tão bem. Suas malas a miraram com desdém. Cerrou-as deixando metade da camisa brasileira do lado de fora. Sentiu o peso de cada dia daquele outono sobrecarregar-lhe a mente e o antebraço.
O aeroporto da capital desesperou-se ao vê-la. Parou as escadas rolantes, travou as portas de vidro, mobilizou policiais para impedi-la de passar pelas barreiras diplomáticas. Mas ela cruzou todos os obstáculos e alcançou o avião, que moveu as asas em sinal negativo, na última tentativa de não perdê-la.
Mas ela invadiu-o, melancólica e soberana. Recostou os ombros exaustos no banco 22 A e deixou-se embriagar pelas nuvens, sorvendo todo o silêncio que necessitava para suportar a travessia.
E o Atlântico coube todo em sua inspiração.
4 Comments:
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Ai, essas partidas... as dores que elas provocam são sempre inversamente proporcionais ao tamanho da felicidade que se materializou nos lugares que, depois, recebem o necessário e dolorido adeus.
E que venham outras felicidades, cores, "aDeuses", dores.
Te amo!
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