Monday, October 09, 2006

Diário de Transbordo - Parte VIII: Um chilango e as contradições do amor



- Sou anarquista. Não acredito no amor. Não da maneira como foi construído, atrelado à instituição familiar.

- É um bom argumento para fugir do casamento.

- Não, Dolores, eu quero me casar.

- Para poder criticar com fundamento quando a relação fracassar?

- Não, mulher. Para passar mais tempo ao seu lado, dormir e acordar todos os dias sentindo seu cheiro.

(Pausa)

- Os anarquistas também amam?

- Por não crerem em nada, os anarquistas constroem motivos para contestar. E o amor é um processo de construção simbólica de motivos para contestar a vida.

- Para mim os anarquistas só se preocupam em desconstruir.

- Isso foi antes da pós-modernidade. Agora nós seguimos na contramão da doutrina social que reza que o ser humano só precisa de prazer. Isso é uma babaquice: a dor é essencial para aguçar os sentidos.


- Meu caro anarquista, ao construir motivos para estar a meu lado, você não está buscando prazer?

- De maneira nenhuma, minha amada. Eu espero ardentemente a dor da partida.

Plaza del Zócalo, 2 de outubro de 2006

1 Comments:

At 3:01 AM, Blogger A digestora metanóica said...

sensacional...

 

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