Diário de Transbordo - Parte VIII: Um chilango e as contradições do amor

- Sou anarquista. Não acredito no amor. Não da maneira como foi construído, atrelado à instituição familiar.
- É um bom argumento para fugir do casamento.
- Não, Dolores, eu quero me casar.
- Para poder criticar com fundamento quando a relação fracassar?
- Não, mulher. Para passar mais tempo ao seu lado, dormir e acordar todos os dias sentindo seu cheiro.
(Pausa)
- Os anarquistas também amam?
- Por não crerem em nada, os anarquistas constroem motivos para contestar. E o amor é um processo de construção simbólica de motivos para contestar a vida.
- Para mim os anarquistas só se preocupam em desconstruir.
- Isso foi antes da pós-modernidade. Agora nós seguimos na contramão da doutrina social que reza que o ser humano só precisa de prazer. Isso é uma babaquice: a dor é essencial para aguçar os sentidos.
- Meu caro anarquista, ao construir motivos para estar a meu lado, você não está buscando prazer?
- De maneira nenhuma, minha amada. Eu espero ardentemente a dor da partida.
Plaza del Zócalo, 2 de outubro de 2006
1 Comments:
sensacional...
Post a Comment
<< Home