Monday, August 28, 2006

Rosa Mexicana


Quando te encontrei prostrado sobre a cama, tão solto, indiferente ao Sol da manhã de Domingo, lembrei-me de Neruda: “Para meu coração basta teu peito / para tua liberdade bastam minhas asas./ Desde minha boca chegará até o céu / o que estava dormindo sobre tua alma”.

Parei por instantes a contemplar teu sono, povoada de vozes nostálgicas, admirada com os passarinhos que sobre teu corpo sobrevoavam.

Detive-me sobre suas cicatrizes, procurando marcas de teu presente, pois teu passado é para mim surdo silêncio, que só a ti pertence.

Beijo a beijo fui ocupando teu corpo, precipitando-me sobre a amplitude de teus braços, sobre o vão de tuas pernas, sobre a beleza de teus traços e a fortaleza do teu sexo.

Deslizei sobre ti como bailarina alucinada, desintegrando-me sobre tua carne, sem temer a queda que se sucede aos grandes saltos.

Voei solta sobre ti, ferindo minhas asas entre teus espinhos, cravando-me inocente em cada riso teu, perdendo-me uma e um milhão de vezes em teu peito.

Encontrei em teu corpo a argila, restos vivos das noites em comum, quando moldamos nossas fantasias para melhor enfrentar os dias de realidade.

Ensurdeci-te com as histórias de minha vida, e te ocultaste, como irmão das coisas fugidias.

Exposta a tua correnteza, recolhi-me a minha própria natureza, entregue aos teus silêncios, esperando que de teus lábios efêmeros brotassem pétalas verbais que mortificassem meu espírito.

Mas de ti vieram cinzas, carregadas de areia de teu jardim, e nas ondas de teus versos rudes, lancei minhas pétalas, procurando entre teus lençóis os sinais dos teus caminhos.

Desfolhaste-me até teus braços caírem, exaustos. Mas permaneci intacta, infinita, deixando sobre ti o pólen de minhas saudades.

Anunciei que voaria para uma terra prometida onde índios clamam por liberdade.

Me exilaria de teu corpo, de teus vinhos, de tua poesia. Levaria em minhas asas a leveza da tua existência e as marcas dos teus espinhos.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home