Sunday, June 25, 2006

Tudo o que é sólido...



Não tinha mais que 18 anos quando ouvi a frase atribuída ao velho Marx: “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Brotou da boca de uma das várias professoras, saudosistas da belle époque não vivida, que colecionei na faculdade de Comunicação.

Foi me dada a tarefa de dissertar sobre o devaneio. Lembro-me bem de que, diante da folha em branco, só conseguia pensar em cubos de gelo derretendo ao sabor do vento. Escrevi qualquer coisa sem paixão e guardei numa gaveta escondida do subconsciente.

Hoje, por uma dessas razões que a gente só descobre anos mais tarde, despertei com a frase atravessada na garganta. Sonhei ser um cubo de gelo, em processo de desmanche. Pingava consciente da minha liquidez. Que ironia! Há pouco mais de dois meses esnobava a solidez da minha vida: um emprego estável, um amor maduro, uma família equilibrada. E agora, tudo se volatilizou. E em meio a essa tormenta de desintegração, sinto-me perfeitamente gasosa, em estado de ebulição!

Não há solidez nas incertezas, nem nas angústias. Ora, e nem nos sonhos, que me aguardam, vaporosos, prontos para serem respirados!

1 Comments:

At 6:48 PM, Blogger A digestora metanóica said...

impermanências...
amei o post! abra sempre suas gavetas e continue nos proporcionando o prazer de tantas cores e dores que fazem parir.
beijo

 

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